sábado, 18 de setembro de 2010

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Outra

"Um país que precisa de um salvador
não merece ser salvo."
(Millôr Fernandes)

A Pátria não se importa de ser "a outra" de José Mourinho. Ele é o homem da sua vida, e ele há tão poucos... Arrostará com todas as condições, todas as esperas em silêncio, todas as intermitências. Estará sempre aqui, por vezes contentando-se com um telefonema apressado entre dois jantares com a legítima: "Sim, também te amo. O guarda-redes que vá fazendo uns exercícios."
Sem ele, a Pátria sentir-se-á perdida, não há quem se lhe compare. Com ele, nem que seja por umas horas, sentir-se-á segura, triunfante, realizada. Venha quem vier. Por isso faz a estrada de Madrid, descalça e desgrenhada, e sobe a Castellana para se pôr à janela do amado. Fará o que for preciso para o ter. Mendigará uma palavra, uma atenção, uma lembrança, como se de pérolas se tratasse. E espera assim conquistar o mundo. O amor vence tudo.

O Homem virá, talvez, numa manhã de nevoeiro, apressadamente, para dar a táctica. Acaba sempre tudo na mesma em Portugal. Tudo isto é tão ridículo e indecoroso que só espero que não se saiba lá fora.

PS - A legítima é que parece não estar lá muito pelos ajustes. Felizmente - a bem da decência. Mas seja o que for que aconteça, já ninguém apaga o desconchavo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É bem visto

No meu tempo de vida, fomos de Eisenhower a George W. Bush. Fomos de John F. Kennedy a Al Gore. Se isto é evolução, acho que dentro de vinte anos estaremos a votar em plantas.
Lewis Black

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Novela dos simples

Ver actores nas novelas portuguesas a pretender representar personagens "populares", "rudes" e "puras" é um espectáculo deprimente que diz tudo sobre o modo como as "elites" (com muitas aspas) vêem o país, e nada sobre o país.
Na interpretação desses actores, geralmente saídos de passereles de moda ou de tascas do Bairro Alto, e que só se aventuraram para fora da cidade besuntados de creme solar de écrã total, interpretar  um simples pescador de Setúbal,  ou um moço de estrebaria do Ribatejo, significa fazer caretas, falar e gesticular como um atrasado mental arraçado de babuíno, e ter  a clarividência de um malmequer. Para não falar de uma rapariga meio selvagem que habita uma novela actual e que é, como persona, tão convincente como o primeiro-ministro a dizer que não há crise. A pequena mais parece uma menina parva de Massamá com birra por lhe terem tirado o IPod do que a "força da natureza" que supostamente representa.
A culpa não é só deles e do seu talento dramático equivalente ao de abóboras, mas sobretudo das respectivas direcções de actores, fazendo a fineza de acreditar que existem. E de quem lhes escreve as falas, já agora. Estas interpretações são de quem não faz a mínima ideia do que é ser simples, puro, ou simplesmente humano. Confundem candura com imbecilidade. Macaqueiam modos que não sabem representar, traduzindo-os num espectáculo grotesco. E são praticamente um insulto ao tipo de pessoas que pretendem encarnar. Se eu fosse pescador  ou moço de estrebaria, fazia-lhes uma espera.
E não me macem com comentários género "é bem feito, quem te manda ver novelas," e ditos correlativos. São outras tantas baboseiras. Toda a gente vê novelas, nem que seja uma vez na vida. E bastaria essa vez para perceber isto.

sábado, 31 de julho de 2010

Relativismos

Parece que, afinal, os jogadores da selecção norte-coreana e respectivo treinador não foram selvaticamente castigados no regresso à Pátria, mas levaram apenas com horas seguidas de reprimendas públicas, e o último foi apenas condenado a trabalhos forçados. Os apoiantes lusos do regime de Pyongyang acenam triunfalmente com este facto na cara dos vis detractores do mesmo regime, que tinham dito cobras e lagartos.
Faz-me lembrar aquele tipo que queria dar ao amigo uma notícia chata da forma mais suave possível: "Olha, houve um desastre e morreu a tua família toda. Espera lá, tem calma, afinal foi só o teu pai."

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Chega!

Já não posso ouvir falar no Cristiano Ronaldo mai-lo filho, mai-las férias, mai-los Ferraris, mai-los helicópteros, mai-las casas, mai-la família dele, mai-lo raio que o parta. Oiço falar dele a propósito de tudo menos daquilo para que é pago, que é para jogar (bem) à bola. Isso não tem feito ele. Chega. Quero que o Cristiano Ronaldo se foda.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Não há justiça neste mundo

Andamos a gente a emprestar dinheiro aos porcos para eles depois nos passarem a perna. Só nos ganham derivado a que passam a vida a jogar à bola. Deviam era de trabalhar como nós, para verem como é. Para a próxima não levam nada e se quiserem vão ao tota.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Notícias da mercearia

Não façamos mais ondas, diz ele. Casem-se lá os gays, se é isso que vai acontecer mais tarde ou mais cedo. Temos mais coisas que nos ralem. Temos é que tratar do graveto, e que se lixem os princípios. É tudo uma questão de balancetes.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Mau feitio

O vulcão islandês Eyjafjallajökull, mais conhecido por "o vulcão islandês," só vai ficar quieto quando nas televisões, rádios e jornais de todo o mundo o referirem pelo nome. Se eu fosse a ele fazia o mesmo.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Rating e ranking

No mesmo dia em que os nefandos mercados nos baixam a cotação financeira, subimos a um inédito 3º lugar entre as melhores selecções de futebol. Baixa o rating, sobe o ranking. É tudo mentira. Nem somos tão maus em contas, nem tão bons a jogar à bola. O mundo não nos compreende. Digo eu.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O nome dos bois


Não percebo porque é que os jornalistas da rádio e da televisão passam a vida a falar de "um vulcão na Islândia" e nunca dizem o nome dele. Parece que têm medo. Deve ser como o cancro, a que se chama normalmente "doença prolongada." Não tarda começam a chamar "vulcão de nome prolongado" ao Eyjafjallajökull.

PS - Com nomes destes, não admira que tenham ido à falência.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Esta gente passa-se

Para Carlos Esperança, o catolicismo é uma marca cultural em Portugal «imposta pela violência». O presidente da associação apontou que foi fruto de «conversões colectivas por imposição dos príncipes, imperadores e dos reis ou pelas conquistas».

Eu até tenho a bondade de esperar que estas citações tenham sido mal feitas, e se verifique a clássica omissão do devido contexto. É que também tenho as minhas questões com Deus e as suas igrejas. Não digo é disparates destes.

terça-feira, 23 de março de 2010

Onde falhámos?

O facto de largas centenas de criaturas terem como passatempo portarem-se colectivamente de uma forma que faria corar de embaraço qualquer bando de babuínos é um facto que seria apenas intrigante e, vá lá, deprimente, se não fosse assustador. As claques de futebol fornecem hoje em dia um dos espectáculos mais boçais que é possível imaginar.

Onde é que falhámos todos, que tornámos possível - ou até, se calhar, encorajámos - semelhante barbárie? Onde é que falhámos, que produzimos gente como os dirigentes desportivos que são capazes de apelar a "ambientes difíceis" na recepção aos adversários e não são imediatamente levados perante um juiz que lhes imponha, no mínimo, um termo de identidade e residência? Que pactuamos com a vacuidade moral, ética e intelectual deste mundo de criaturas mafiosas, corruptas e pindéricas que gira em torno e no futebol, e os tratamos como heróis do quotidiano e até modelos de virtudes?

Onde é que falhámos, que produzimos aquela sub-humanidade idiota e ululante das claques? Que achamos natural ver aquelas multidões de imbecis acarneirados empilharem-se voluntariamente em autocarros escoltados por polícias que os conduzem como gado que afinal são, sovando-os aqui e ali com indisfarçável e compreensível gosto? Onde falhámos, que não sucumbimos logo a um ataque de vergonha por partilharmos com eles (em princípio, pelo menos) a mesma natureza humana?

Onde é que falhei, que ao vê-los começo a pensar em sítios feios com arame farpado à volta?

Que Deus tenha piedade de mim.


quinta-feira, 11 de março de 2010

Olá

Venho aqui rigorosamente um mês depois da última vez que cá vim. Esta introdução americotomasiana só serve como pretexto para eu dizer que o tempo voa, irmãos. Mas o facto de usar pretextos para escrever num sítio que é meu, meu e só meu, e do qual faço por isso o uso que bem entender, inquieta-me. O que vale é que ninguém lê esta porcaria.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Hã?

Oiço de vez em quando, por cafés e pastelarias, pedir um abatanado. É, parece, uma bebida com, ou de, café. Nunca aprofundei. Mas é o que menos me interessa, porque nunca irei pedir tal coisa. Acho altamente improvável, para não dizer impossível, que algum dia eu venha a beber  conscientemente algo com um nome assim. Até era capaz de me fazer mal, sei lá.

meninas vamos ao shift

há imensa gente que agora deu em escrever assim, sem usar maiúsculas. a primeira vez que vi tal coisa foi nos textos de f. no jugular, aquele blogue que tem grandes amigas minhas e também uma cientista radical que suspira em inglês mas que não tem nada a ver com este assunto, foi só um aparte. depois vi a mesma mania aqui e ali na chamada blogosfera. há mesmo um escritor, valter hugo mãe, que até o próprio nome escreve assim, e depois vai por aí fora, em livros inteiros. alega ele que o faz porque "as palavras têm todas a mesma dignidade."

digo eu: ó mãe, arranja outra desculpa. tu queres é ser diferente e dar nas vistas. a dignidade das palavras não está na ortografia, está no uso que lhe deres. e a dignidade da tua escrita está no que ela traduz, não nos sinais gráficos que usas. poupa-me. a bem dizer, poupas-me mesmo, porque até pode ser que escrevas bem, mas nunca li nem me apetece ler nada teu, pelo menos enquanto escreveres assim e os teus textos tiverem o aspecto deste que acabaste de ler . e se não acabaste, isso só prova uma de duas coisas: ou que nem sabes que existo, que é de longe o mais provável, ou que este texto é uma chatice de ler.

para mim é. andou a humanidade durante séculos a apurar formas de tornar a escrita legível, balizando-a, introduzindo marcas que facilitem a leitura e a compreensão do texto, que permitam entrar nele não só pelo princípio e pelo fim mas também por pontos intermédios, tornando-o vivo e digno, com os seus altos e baixos, as suas colinas, vales e planícies como numa jornada em que a paisagem variada nos revela o que lhe está subjacente e nos incita a continuar, e vem esta gente dar cabo de tudo isso e tornar o texto numa seca altamente confusa e chata de ler.

é que nem se vê bem onde começam e onde acabam as frases nem se distingue deus de um deus qualquer, nem a maria dos prazeres dos prazeres da maria, nem se sabe se são os vieiras que comem vieiras ou as vieiras que comem os vieiras ou os lampreias as lampreias, ou vice-versa. e é uma chatice de ver. digam lá se esta porcaria tem alguma piada, esta uniformidade rebarbativa, estas riscas monótonas como bombazina barata, como um batalhão de ss - não, não é uma onomatopeia para serpentes, é a sigla de schutztaffel, os tropas de choque do hitler, que marchavam alinhadinhos e todos iguais como as tuas palavras, ó mãe.

não, poupem-me a esse igualitarismo ortográfico, a esse ódio plebeu à caixa alta, a esse nivelamento oco, a esse relativismo bacoco. isso não é mais do que uma moda, como as calças à boca de sino, as patilhas em bico ou dizer "basicamente" de duas em duas frases. abaixo a ditadura da caixa baixa. abaixo a preguiça de carregar no shift e desactivar o capslock. shift happens, digo eu que também sei inglês. viva o progresso e as suas grandes conquistas. e, sobretudo, irmãos, deixem-se de tretas. a brincadeira foi gira, a ideia foi curiosa, teve muita graça, ha ha ha. agora escrevam como gente, que é para a gente os ler, que a gente agradece-vos muito o esforço, e à vossa família toda.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fujam que aí vou eu

A NATO anda a anunciar há dias que vai lançar uma ofensiva no sul do Afeganistão. Vai ser uma coisa em grande, como nunca se viu ali. Até avisa as pessoas para não sairem de casa, porque aquilo vai ser um ver-se-te-avias de marines e outros mancebos aos tiros.
In illo tempore, as guerras não tinham estas modernices democráticas de avisar antes. Imagino que os chamados talibãs já tenham feito sentir à NATO que, se não for muita maçada, era fofo que lhes mandassem também os mapas e os planos, para serem juntos ao processo.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

I Got a Feeling...

 ...que já não posso ouvir a porcaria da música.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Efectivamente

Os estudantes do básico e secundário estão em luta, enfim, quer dizer, alguns deles, basicamente, pá. Além de portanto quererem a revisão do portanto estatuto do aluno, e que se acabe, pá, com as aulas de substituição e assim, e mais umas coisas como se costuma dizer, exigem introdução imediata (ehehehe) da educação portanto sexual. Acham portanto que efectivamente é urgente explicarem-lhes, pá,  como enfim quer dizer são feitos os meninos e para que servem os portanto preservativos, e como hádem ter cuidado para não apanharem coisas chatas derivadas ao pouco cuidado.
De maneiras que é isto.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Mais uma voltinha

Eu sei que toda a gente tem direito à vida, ao trabalho, à justiça, e essas coisas todas. Mas sinto que há algo a dizer sobre um país que é atormentado por manifestações de donos de carrocéis. Quando parar de rir, talvez consiga pensar nisso um pouco mais a sério.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

É Lula lá

                     
Lula só não foi a Davos porque a hipertensão o atacou quando já estava no avião.  Não sei se os 18-12 do antigo sindicalista de S. Bernardo do Campo e líder do Partido dos Trabalhadores têm a ver com a pressão simbólica da viragem histórica: quando Lula vai a Davos e já não à sua antítese do Fórum Social de Porto Alegre, percebemos como o Brasil mudou. Agora é branco de olhos azuis.

Quem vai à guerra

O ex- major Mário Tomé classifica os “nossos rapazes” que vão para o Afeganistão de “mercenários”. «Vão ganhar mais dinheiro por irem para o Afeganistão. Oferecem-se. No outro dia vi um sargento que era a quinta vez que ia para uma missão», disse o major, assegurando não ter dúvidas em qualificar este tipo de participações: «São mercenárias. Até porque não têm nada a ver com os nossos interesses, de Portugal e dos portugueses».
O ex-major Tomé foi soldado profissional, e recebeu o seu soldo por isso. Viveu disso. Foi disso que se alimentou e à sua família. Nessa qualidade, foi para a guerra. Talvez não se tenha oferecido; mas também não disse que não. Era uma guerra injusta, como o ex-major Tomé se fartou de declarar depois. Não obstante, lutou nela. E muito bem, até porque o ex-major Tomé era um excelente soldado. E, enquanto lá esteve, recebeu mais dinheiro, porque quem lá estava recebia subvenções de campanha. Provavelmente, o ex-major Tomé mudou de opinião e renega este seu passado. Toda a gente pode mudar de opinião. Mas há que ter algum pudor neste processo.
Os soldados que vão para o Afeganistão são profissionais. E é justo que qualquer profissional – incluindo os soldados – sejam remunerados conforme o trabalho que façam, e recebam incentivos para efectuar tarefas mais exigentes. Bancários, médicos, professores, advogados, procuram trabalhos e lugares mais bem remunerados, e toda a gente acha legítimo. Porque não também os soldados, dentro dos limites éticos da profissão?

Chamar-lhes mercenários é injusto e desonesto. Um mercenário é aquele que se coloca ao serviço de qualquer senhor, desde que este lhe pague mais. Que o ex-major Tomé critique o país e os seus dirigentes, por alinharem numa guerra duvidosa, é outra conversa. Mas os nossos soldados colocaram-se ao serviço do país, como ele, ex-major Tomé, fez um dia. Não estão no mercado, à disposição de um qualquer condottiere. Recebem dinheiro por isso? Ainda bem. Era muito pior que fossem para lá de graça, e à força – como acontecia a muitos dos homens que o ex-major Tomé comandou no passado.