terça-feira, 23 de março de 2010

Onde falhámos?

O facto de largas centenas de criaturas terem como passatempo portarem-se colectivamente de uma forma que faria corar de embaraço qualquer bando de babuínos é um facto que seria apenas intrigante e, vá lá, deprimente, se não fosse assustador. As claques de futebol fornecem hoje em dia um dos espectáculos mais boçais que é possível imaginar.

Onde é que falhámos todos, que tornámos possível - ou até, se calhar, encorajámos - semelhante barbárie? Onde é que falhámos, que produzimos gente como os dirigentes desportivos que são capazes de apelar a "ambientes difíceis" na recepção aos adversários e não são imediatamente levados perante um juiz que lhes imponha, no mínimo, um termo de identidade e residência? Que pactuamos com a vacuidade moral, ética e intelectual deste mundo de criaturas mafiosas, corruptas e pindéricas que gira em torno e no futebol, e os tratamos como heróis do quotidiano e até modelos de virtudes?

Onde é que falhámos, que produzimos aquela sub-humanidade idiota e ululante das claques? Que achamos natural ver aquelas multidões de imbecis acarneirados empilharem-se voluntariamente em autocarros escoltados por polícias que os conduzem como gado que afinal são, sovando-os aqui e ali com indisfarçável e compreensível gosto? Onde falhámos, que não sucumbimos logo a um ataque de vergonha por partilharmos com eles (em princípio, pelo menos) a mesma natureza humana?

Onde é que falhei, que ao vê-los começo a pensar em sítios feios com arame farpado à volta?

Que Deus tenha piedade de mim.


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