domingo, 31 de janeiro de 2010

Mais uma voltinha

Eu sei que toda a gente tem direito à vida, ao trabalho, à justiça, e essas coisas todas. Mas sinto que há algo a dizer sobre um país que é atormentado por manifestações de donos de carrocéis. Quando parar de rir, talvez consiga pensar nisso um pouco mais a sério.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

É Lula lá

                     
Lula só não foi a Davos porque a hipertensão o atacou quando já estava no avião.  Não sei se os 18-12 do antigo sindicalista de S. Bernardo do Campo e líder do Partido dos Trabalhadores têm a ver com a pressão simbólica da viragem histórica: quando Lula vai a Davos e já não à sua antítese do Fórum Social de Porto Alegre, percebemos como o Brasil mudou. Agora é branco de olhos azuis.

Quem vai à guerra

O ex- major Mário Tomé classifica os “nossos rapazes” que vão para o Afeganistão de “mercenários”. «Vão ganhar mais dinheiro por irem para o Afeganistão. Oferecem-se. No outro dia vi um sargento que era a quinta vez que ia para uma missão», disse o major, assegurando não ter dúvidas em qualificar este tipo de participações: «São mercenárias. Até porque não têm nada a ver com os nossos interesses, de Portugal e dos portugueses».
O ex-major Tomé foi soldado profissional, e recebeu o seu soldo por isso. Viveu disso. Foi disso que se alimentou e à sua família. Nessa qualidade, foi para a guerra. Talvez não se tenha oferecido; mas também não disse que não. Era uma guerra injusta, como o ex-major Tomé se fartou de declarar depois. Não obstante, lutou nela. E muito bem, até porque o ex-major Tomé era um excelente soldado. E, enquanto lá esteve, recebeu mais dinheiro, porque quem lá estava recebia subvenções de campanha. Provavelmente, o ex-major Tomé mudou de opinião e renega este seu passado. Toda a gente pode mudar de opinião. Mas há que ter algum pudor neste processo.
Os soldados que vão para o Afeganistão são profissionais. E é justo que qualquer profissional – incluindo os soldados – sejam remunerados conforme o trabalho que façam, e recebam incentivos para efectuar tarefas mais exigentes. Bancários, médicos, professores, advogados, procuram trabalhos e lugares mais bem remunerados, e toda a gente acha legítimo. Porque não também os soldados, dentro dos limites éticos da profissão?

Chamar-lhes mercenários é injusto e desonesto. Um mercenário é aquele que se coloca ao serviço de qualquer senhor, desde que este lhe pague mais. Que o ex-major Tomé critique o país e os seus dirigentes, por alinharem numa guerra duvidosa, é outra conversa. Mas os nossos soldados colocaram-se ao serviço do país, como ele, ex-major Tomé, fez um dia. Não estão no mercado, à disposição de um qualquer condottiere. Recebem dinheiro por isso? Ainda bem. Era muito pior que fossem para lá de graça, e à força – como acontecia a muitos dos homens que o ex-major Tomé comandou no passado.